A busca por soluções eficazes e sustentáveis no tratamento de água de piscinas tem levado à crescente adoção da luz UV-C (Ultravioleta C). Esta tecnologia, que atua no cerne dos microrganismos, oferece uma desinfecção robusta e uma alternativa promissora aos métodos tradicionais, impactando positivamente a saúde dos usuários e o meio ambiente.
A jornada da luz ultravioleta no campo da desinfecção teve início no século XIX. Em 1801, o físico alemão Johann Wilhelm Ritter observou as propriedades invisíveis e reativas dos raios UV. Contudo, foi no início do século XX que suas capacidades germicidas foram verdadeiramente exploradas. Em 1903, Niels Ryberg Finsen foi laureado com o Prêmio Nobel de Medicina por sua pesquisa pioneira no tratamento de doenças de pele com luz ultravioleta.
A aplicação prática em grande escala da UV-C para a purificação de água potável materializou-se em Marselha, França, em 1910. Desde então, a evolução tecnológica impulsionou o desenvolvimento de lâmpadas mais eficientes e sistemas mais robustos, expandindo seu uso para diversas aplicações, notadamente o tratamento de água em piscinas.
O poder desinfetante da luz UV-C reside em sua capacidade de neutralizar microrganismos através de um processo físico. A luz UV é uma forma de radiação eletromagnética, com a banda UV-C (100-280 nm) sendo a de maior interesse germicida, particularmente no comprimento de onda de 253.7 nanômetros (nm).
Ao expor a água contaminada à radiação UV-C, a energia luminosa é absorvida diretamente pelo DNA e RNA dos microrganismos (bactérias, vírus, protozoários e algas). Essa absorção provoca danos moleculares irreversíveis, como a formação de dímeros de pirimidina. Tais alterações comprometem a capacidade de replicação e funcionamento celular dos patógenos, inativando-os e impedindo sua proliferação. Este é um processo fundamentalmente físico, que não introduz substâncias químicas adicionais à água nem gera subprodutos residuais tóxicos.
Em piscinas, a tecnologia UV-C atua como um método de desinfecção secundário altamente eficaz. A água é bombeada através de uma câmara selada onde é submetida à radiação UV-C. Essa exposição resulta na inativação de um amplo espectro de microrganismos, incluindo bactérias patogênicas, vírus e protozoários resistentes ao cloro, como Cryptosporidium e Giardia, além de algas.
Um dos benefícios mais significativos é a drástica redução da necessidade de cloro, frequentemente entre 50% e 80%. Isso se traduz em menos irritação para olhos e pele, um odor de cloro minimizado e a eliminação de subprodutos indesejados, como as cloraminas, que são responsáveis pelo forte cheiro característico de piscina e por problemas respiratórios, especialmente em ambientes cobertos.
A correta especificação de um sistema UV-C é crucial para garantir sua performance ideal. Fatores essenciais a serem considerados incluem:
Volume da Piscina: Determina a capacidade e o número de unidades UV-C necessárias.
Vazão da Bomba: O sistema UV-C deve ser dimensionado para operar eficientemente com o fluxo de água da bomba da piscina, assegurando uma exposição adequada.
Qualidade da Água: A turbidez e a presença de sólidos suspensos podem mitigar a eficácia da UV-C, pois podem atenuar a penetração da luz. Uma filtração eficaz prévia é, portanto, indispensável.
Dose de UV-C: A efetividade da desinfecção é função da intensidade da lâmpada e do tempo de exposição. A dose é tipicamente expressa em millijoules por centímetro quadrado (mJ/cm2).
Tipo de Lâmpada: Lâmpadas de baixa pressão são energeticamente mais eficientes e emitem um espectro UV-C mais focado (253.7 nm). Lâmpadas de média pressão oferecem um espectro mais amplo, sendo mais eficazes na degradação de cloraminas.
Fabricantes renomados de equipamentos UV-C fornecem diretrizes detalhadas para o dimensionamento, assegurando a máxima eficiência do sistema.
Desinfecção Superior: A UV-C inativa praticamente 100% dos microrganismos, incluindo patógenos cloro-resistentes como Cryptosporidium.
Redução do Consumo de Químicos: Diminui significativamente a necessidade de cloro e outros desinfetantes.
Melhora da Qualidade do Ar e da Água: Reduz a formação de cloraminas, eliminando o odor forte e a irritação, resultando em uma água mais cristalina e agradável.
Segurança Operacional: Elimina a necessidade de manuseio e armazenamento de produtos químicos perigosos.
Sustentabilidade Ambiental: Contribui para uma pegada química reduzida e um impacto ambiental menor.
Custo Inicial: O investimento inicial para a aquisição e instalação de um sistema UV-C pode ser superior ao de métodos convencionais.
Manutenção Periódica: Lâmpadas UV-C possuem uma vida útil finita (geralmente entre 10.000 e 12.000 horas) e requerem substituição regular, além da limpeza do tubo de quartzo que as envolve.
Ausência de Residual: O UV-C desinfeta a água no ponto de tratamento, mas não mantém um residual desinfetante na piscina. Isso exige a manutenção de um nível mínimo de desinfetante químico para proteção contínua.
Dependência da Qualidade da Água: A eficácia do sistema pode ser comprometida por alta turbidez ou coloração da água.
Apesar da notável eficácia da UV-C, a legislação sanitária e as normativas em muitos países, incluindo o Brasil, impõem a manutenção de um residual de desinfetante (geralmente cloro livre) na água das piscinas. Essa exigência é fundamental porque, enquanto a UV-C desinfeta a água pontualmente, o cloro fornece uma proteção residual contínua por toda a extensão da piscina, atuando contra contaminações introduzidas após a passagem da água pelo sistema UV-C.
No contexto brasileiro, a Resolução RDC nº 216/2004 da ANVISA estabelece os padrões de qualidade da água para piscinas de uso coletivo, determinando limites para o cloro residual livre. Embora não mencione a UV-C como método único, a obrigatoriedade do residual de cloro livre permanece inalterada. Diretrizes internacionais, como as da Organização Mundial da Saúde (OMS) para água recreacional, também sublinham a importância do desinfetante residual.
Atualmente, não existem normas nacionais que obriguem o uso de UV-C em piscinas no Brasil. No entanto, entidades como a ANAPP (Associação Nacional dos Fabricantes e Construtores de Piscinas e Produtos Afins) reconhecem seus benefícios e orientam sobre sua implementação.
No cenário internacional, a adoção da UV-C é mais difundida, sendo incentivada ou até mesmo exigida para piscinas públicas em países europeus (como Alemanha e Holanda) e norte-americanos. Normas como a NSF/ANSI 50 da NSF International para equipamentos de piscinas incluem certificações para sistemas UV de desinfecção. A OMS também tem publicado documentos técnicos que validam a eficácia da UV-C na desinfecção de água.
A utilização de sistemas UV-C para tratamento de água tem apresentado uma expansão global contínua. Sua presença é particularmente notável em:
Piscinas Públicas e Comerciais: A UV-C é amplamente empregada em complexos aquáticos, parques aquáticos e centros de lazer em diversas regiões, impulsionada pela sua eficácia na redução de cloraminas e no controle de patógenos.
Uso Residencial: Embora o investimento inicial possa ser um fator, a demanda por piscinas residenciais com menos químicos e uma experiência de nado mais saudável tem fomentado a adoção da UV-C.
Tratamento de Água Potável e Esgoto: Em escala macro, a UV-C é uma tecnologia padronizada em estações de tratamento de água potável e de efluentes em muitas partes do mundo.
Não há estatísticas precisas sobre a penetração do UV-C em piscinas residenciais brasileiras, mas o mercado de equipamentos UV-C para piscinas em Ribeirão Preto, e no Brasil como um todo, reflete uma tendência global de crescimento, impulsionada pela busca por saúde, bem-estar e sustentabilidade.
Em síntese, a tecnologia UV-C representa um avanço significativo no tratamento de água para piscinas, oferecendo uma desinfecção altamente eficaz e contribuindo para uma experiência aquática mais saudável e agradável, alinhada às exigências sanitárias e ambientais contemporâneas.